quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

fragmentos de um diálogo íntimo IV

- você se arrepende?
- se eu me arrependo?...hum...em alguns momentos sim, outros não. de uma coisa tenho certeza: não devia ter mudado toda minha vida por causa da minha carência. devia tê-la tratado, curado, enquanto podia, enquanto não metia o olho na fechadura errada.
- é.
- agora é juntar os cacos, tentar refazer o vaso para poder abrigar lindas e novas flores.
- um dia
- um dia.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

fragmentos de um diálogo íntimo III

- o que você é?
- não sei.
- pergunta errada. Qual seu objetivo?
- não sei.
- serve pra quê?
- também não sei.
- então...
- sou um vivente, por enquanto...
- só?
- é.
- você é bonito?
- às vezes.
- quando?
- ah...quando tenho uma ideia genial!
- qual a última que teve?
- ...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

esta é apenas uma carta de doação

esta é apenas uma carta de doação

da minha sinceridade ao vê-la de alma desflorida
de olhos tão opacos, num verde cansaço
de um sorriso forçoso de canto de boca,
somente um lado
o lado que repuxa as engrenagens da esperança e tenta
apenas tenta
eu sei que a alegria mora em algum pedacinho do seu corpo
mas qual?

e eu, eu me sinto tão inútil, tão insignificante, com minhas tentativas de te fazer uma piada
de te arrancar uma risada, não um sorriso torto
uma coisa que venha do fundo e desabroche num espalhafatoso riso
gozoso
feliz
mas fico em vão
de bunda pelada num frio chão
às vezes até penso que você detesta minha forma de ser
que não pode mais ouvir minha voz, minhas vozes, minhas gargalhadas, minhas...
minhas tentativas

me deixa triste senti-la um dissabor tamanho pela simplicidade de um carinho
me deixa culpado eu tentar ser feliz e não acompanhá-la numa maré fria

por favor, segure a minha mão!

terça-feira, 9 de agosto de 2016

estrelinhas

...uma certa carga alcoólica no ar
o som vibrando nostalgia
pés na grama, mesmo que de meias, eram pés na grama
não tínhamos luzes suficientes no quintal, então penduramos as luzinhas de natal
no varal
ficou bom, ficou mágico
eram estrelinhas, bem próximas de nós
era só você e eu
e eu pedi:
- sente-se aqui comigo...vamos curtir o momento

com ódio nos olhos vermelhos, enlouquecida, você respondeu:
- você pode fazer o favor de me ajudar a guardar as coisas!

ficou ruim, a mágica acabou
ficou mal, as estrelinhas morreram
mais uma ou duas cervejas pra fechar o caixão

...aí você veio sentar-se, pediu uma tragada do meu cigarro
silêncio

olhei para o céu e a estrelinha estava tão distante...

fim da festa.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

erro - 14/07/2013 às 22h33


estou errando

em algum lugar estou errando

em algum ponto amarrado ficou ali a sorte

em algum ponto mal dado a infecção nasceu

e eu errei

errei tão bem, tão bom meu erro que mais parece acerto

e por isso não sei onde está

tudo parece no lugar

mas o erro existe

tudo parece bem estar

mas me sinto nu

sim, nu, pelado, perdido e sem resposta

a única coisa que sei é que o erro está presente

é angustiante não vê-lo

é absurdamente angustiante sentir-se um cego num tiroteio

é pior que a morte, assistir a vida passar e não ser ao menos coadjuvante de si mesmo.


jan

terça-feira, 21 de junho de 2016

Não sei escrever - 01/12/2005 01:40

Não sei escrever
Como se deve dizer
Com palavras escritas
Palavras bonitas

Em versos e verões
Severas, se verão as multidões
Na escuridão de um triunfo
O trunfo

Digo tudo sem falar
Escrevo poucas cabeças
Palavras e recompensas
Suor e sangue, nenhum altar

Nenhuma promessa
Apostas vãs em verbos sem tempo
Um poema é sempre um momento
A glória que não acaba, não começa

Não sei escrever porque não aprendi
Apenas soou estranho o que vivo e vivi
O que vi e o que sonhei
Chorei, caí, levantei

Comecei a lutar
Voltei a chorar e tentei...
Cantei os amores distantes
As constantes dores do verbo amar

Falar de amor
Sem pensar em dor
Como fazer?
Como não jazer?

Num lindo dia, fugirei, e antes, direi
Os versos que sonhei em dizer
Mas ainda não ousei
Não sei escrever

Não sou poeta de falar bonito, não...
Que a Lua faz surgir o mundo infinito
O mundo das melodias soltas no ar
Mas que se cruzam num momento belo, singular

Tão vivo, tão sublime!
Que as coisas da vida sejam assim!
Que a vida seja um poema sem narrador
Um amor como somente ele mesmo se exime

Da culpa de sonhar
Um monumento permanente
Concreto, repleto como eu queria
A fantasia, como eu queria!

Não sei escrever por não saber
Que estou em comunhão sagrada
Do fazer e pensar, uma visão
Um coração que voa na noite enluarada

E saber o que dizer
Não é saber escrever
Não é ocultar a doce lembrança
É ter em que apostar tudo quanto se pode

Esperar com confiança
Esperança de ver, tocar
Sentir a língua no coração
A emoção redigida

Em linhas de paz
A alma jaz acordada
No empenho da guerra
No sangue guardado jamais

Há mais de onde isso veio
O espírito é infinito enquanto voa
Demais, o controle é o receio
O anseio da mente em viver a toa

Atordoado
Confuso
Rebelo o amontoado
De paixões esquecidas num discurso

De perdas eternas
Repetições eternas
Feridas eternas
Da vida triste eterna

Não sei como escrever
Angústia, enquanto me corrompa
Perdão por querer
A dúvida do poder, a afronta

Interrompa meu dizer
Calado
Como a serpente em dia de ventania
Como alguém me queria...

Como alguém há de reagir
Há de criar, sumir
Regressar, reassumir
Amar, cantar, fugir

Vou dizer sem escrever
O que quero dizer
Porque não sei escrever
O que sempre tentei fazer

Tentei amar e não soube entender
Tentei brigar por querer
Sem querer, tentei me machucar
Mas entre amar e escrever

Prefiro ficar esperando
O quando, o momento
De arrepender... Não!
O amor vem cantando...

E falando as línguas esquecidas
Por homens que não sabem escrever
Sabem ler o que há para se ver
Línguas de fogo em páginas invertidas

Tolos com penas nas mãos
Apenas as mãos dançam com palavras
Ingratas por não dizerem o que vem sem explicação
O que vêem não é coração

Não sei escrever assim
Não vou rir de mim
Não vou pensar que sou o que não sou
Porque sempre que penso, sou mais que isso que sou

Sou mais verdadeiro, mais bonito
Mais correto, mais sincero o ímpeto
No peito, cicatrizes e medalhas
Orações e migalhas, límpido instante

Ínfimo, constante, atraente
Contudo, sempre distante
Mas escrevo só quando consistente
For a idéia do amor enquanto assim for

Enquanto conclamar o vício
Solícito para o pensamento
De repulsa em fugir ao tema
Pulsa o pulso, na alma: lama e sentimento

Um show com gosto melancólico
Do ódio, das odes às Deusas
Dos emaranhados cúmplices do desejo
Um beijo alcoólico

Não posso mais escrever
Porque a tristeza é uma armadilha
Uma companhia, um evento
Um vento cortante vem reviver

O instante da saudade
Quanto de maldade há num sorriso?
Um belo riso do tempo, escondido
Um abraço na lembrança

Esperar novamente
Pela conquista do espaço
No laço, no anel permanente
Da aliança das vontades do acaso

O vento
Amanhece
O momento
Acontece

Florece
Amolece
Recomece
Adoece

Morre e ainda vive
Como a semente
Somente no seio
Corre, pula, reage

Na lâmina do vilão sempre há sangue raro
Caro, sobrevivente na vertente do tempo
Ósculo da morte quente
Envenena-se com vinho fresco e tempero de canalha

A vantagem de quem sabe escrever
Contar, o que se quer e não o que se deve
A neve branca que é vermelha
O sino do lamento ao povo com prazer!

Vou escrever até a hora que não mais
Poder querer, o sonhar do querer
Voraz atração de compor
Arremeter o coração até o minuto que jaz

Atrás vai, sempre vai
A ilusão sempre trás
O vento sempre corre
Para o alto nunca morre

Nunca se esconde ou tenta matar
Ou finge se enjoar
De tudo quanto for nobre
O valente contentamento esnobe

Uma vontade imensa
Um pensar demais desgastado
Desgostoso no corpo do chamado
A vontade mais intensa

De falar e escrever
Ficar e esquecer
Adoecer, morrer
E jamais amar

Jamais retornar ao lar
O luar
O mar, que me beija os pés
A brisa que cobre o corpo

O rosto sedutor regado às marés
O calor, o sabor de contar
As delícias vívidas
As maravilhas de outro lugar

E por assim dizer
Triste é a vida do cantor
Harmonias repletas de prazer e dor
Cantando o choro do dia amanhecer

E como não quero mais escrever
Vou dizer que já não sei mais contar
Não sei mais como falar
Minha vida se vai quando não mais dizer

Quando não mais sonhar
Que um dia disse tudo que devia
Ou não devia aos deuses explanar
Minha dor, minha perda por achar

Menor tudo que disse
Tudo que faço por assim pensar
Por tudo que amei e tudo que existe
E meu nome, meu amor jamais chamar

Não direi nada à criança que partiu
Esperando que retorne
Retome sua lembrança do tempo que sumiu
Que conduziu o santo dizer em meu nome.

Não sei o que seria
Não sei o que me falta
Não sei mais o que falar
Só sei que este é o meu lugar.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

fragmentos de um diálogo íntimo II

- o que você tá fazendo aqui?
- trabalhando
- eu sei, mas nisso?
- todos dizem: todo mundo precisa trabalhar. e estão certos...
- é verdade. mas é chato esse trabalho né?
- o segredo é você tentar deixar legal.
- hum...não seria mais fácil encontrar algo que você goste muito de fazer?
- não, esse é o mais difícil.
- por quê?
- porque o nome disso é sonho e trata-se de uma parada complicadíssima.
- eu sei
- sabe como?
- uma parte de mim gostaria de viver de escrever, outra queria ter sido jogador de basquete e outra caiu na asneira de experimentar teatro!
- puxa, aconteceu a mesma coisa comigo
- você conseguiu viver disso?
- por um curto tempo
- e como se livrou da frustração?
- trabalhando.
- no que?
- em qualquer coisa, só pra aliviar a mente e se sentir um pouco menos inútil
- mas não era o que você queria? tipo, o seu sonho?
- não.
- e como fez?
- tentei deixar a coisa legal.
- ah.

terça-feira, 31 de maio de 2016

fragmentos de um diálogo íntimo

- acho que ela vai me deixar
- por que pensa assim?
- todas se foram, ela é apenas mais uma.
- ela não é especial?
- sim é, como as outras foram
- tudo tem sua época?
- exato.
- acha que ela não o ama mais?
- acho que ela me ama, mas é complicado
- o amor não deveria bastar?
- de que comédia romântica você veio?
- é, você tem razão...
- eu sei.
- e o que vai fazer?
- nada.
- vai deixar que ela se vá assim?
- e o que eu posso fazer? se eu a amo quero que seja feliz, se vive comigo infeliz então é melhor logo que se vá.
- o que vai acontecer com você?
- não tenho a menor ideia, mas das outras vezes eu sobrevivi.
- dramático...!
- pois é, também achei...mas é a verdade. sabe quando você acorda com aquela maldita ressaca e diz que nunca mais vai beber na porra da sua vida?
- aham
- eu dizia isso do amor
- hahahahaahahahaahahahahaha...
- hahahahaha..........eu sei, logo um sujeito manhoso e carente como eu...
- dê um tempo...pense melhor. comece o trabalho novo. vê se ela sente sua falta.
- caralho!
- o quê?
- eu não sei o que ela quer da vida. suspeito que talvez nem ela saiba...
- mulheres.
- mulheres.

sábado, 28 de maio de 2016

Quando sonhei que ofereci um blues ao Mário Bortolotto

Quando sonhei que ofereci um blues ao Mário Bortolotto


Nesse blues eu acordei de um sonho
De que vivia num tempo tão medonho
A minha vida era apenas um reflexo,
Do meu eu num espelho controverso


Meu amigo Bortolotto, isso é apenas o meu verso
Meu amigo Bortolotto, é só isso que eu converso


Uma bebedeira delirante, dessas que eu li da sua estante
Mas uma brincadeira tão gostosa quanto a boca da amante
Eu vou criar uma língua pra esse universo
Mas por enquanto do amor eu me despeço


Meu amigo Bortolotto, isso é apenas o meu verso
Meu amigo Bortolotto, é só isso que eu converso


Esse verso que eu converso já ta dando no meu saco
Porque o blues do meu sonho eu já cantei, mas esqueci
O meu refrão agora é um disco quebrado
A minha vida é um compromisso entediado, um teatro que eu não pude ir


Meu amigo Bortolotto, isso é apenas o meu retrato
Meu amigo Bortolotto, é só isso que tenho de fato

sábado, 21 de maio de 2016

O dia em que troquei uma ideia com Lázaro Ramos



Há um projeto do Sesi que se chama Inteligência PontoCom, em que artistas de todos os segmentos vão até alguma unidade do Sesi para debater assuntos que permeiam arte, cultura e sociedade em geral.


O Sesi de Itapetininga recebeu, dia 18 de maio de 2016, Lázaro Ramos e Maurício Negro para um bate papo sobre o livro infantil escrito por Lazaro e ilustrado por Maurício.





Entre tantas outras coisas, eles falaram muito sobre o bom caratismo, ou melhor, a falta dele nos dias atuais em nossa sociedade.


Até que chegou o momento tão aguardado da rodada de perguntas. E quem foi o primeiro a fazer uma pergunta?

Eu, que já não me aguentava na cadeira de tanta ansiedade.


A minha pergunta se encontra exatamente no minuto 47:25 do video abaixo.


Para quem não tiver saco de ver o video, transcrevo aqui o meu muito mais relato que pergunta, hahaha:


"Boa noite a todos. Meu nome é Janderson e eu sou ator. E...bom, simplificando, eu sou de uma cidade aqui do lado que se chama Tatui, hoje eu moro em Itapetininga, mas antes disso eu morei 9 anos em São Paulo. E só pra dar o exemplo da questão do bom caratismo - a gente é ator, não é conhecido, a gente sabe das dificuldades, todo mundo sabe, mas a gente gosta de fazer isso, então a gente encara. Eu acredito que realmente existem grupos, a gente sabe que existem grupos muito bons de teatro, mas eu acabei caindo nas mãos de muita gente mal caráter que infelizmente o nosso teatro tá repleto disso. São pseudo-produtores, pseudo-diretores que enfim...eles maltratam mesmo o ator, a gente ganha muito mal. Mas a gente gosta tanto (do teatro) que acaba aceitando. Só emendando uma coisa, uma vez eu li uma entrevista do Lázaro, me perdoe se eu contar a história errada, mas enfim...Você se encontrou com o Wagner Moura logo que vocês chegaram ao Rio de Janeiro (sic) e ele te disse assim 'pô to cansado já porque só me dão papel de nordestino e bandido pra eu fazer', aí você teria dito a ele 'ih meu filho você ainda tá bem, pra mim só dão papel de preto'. Então é sobre isso, sobre a questão do nosso teatro ta repleto de pessoas que querem se aproveitar e a qualidade cultural lá embaixo infelizmente."






https://www.youtube.com/watch?v=1TBm5uv5yiQ

sexta-feira, 20 de maio de 2016

o que sou
mais que isso, o que resta
o que será
o futuro na minha mão
mas a luz da consciência viaja livre
eterna

quarta-feira, 18 de maio de 2016

vou abrir

vou abrir minha palavra
dizendo,
que tudo que tenho para dizer já foi dito por tantos e tantos sonhos

haha sonhos...

o que é o sonho?
é uma palavra esquecida numa mente distraída
é uma palavra em branco

fértil?
não sou tão fértil
não posso continuar essa merda toda
deixo para outros

ao saber disso, pego minha moto e vou visitar a natureza
qual a resposta para isso?
algumas mordidas de um animal que não conheço, nem vi
as marcas existem

não é tristeza, muito menos cocaína
é o inesperado dado como certo
é alguma fraqueza
triste é o hipócrita

vou dizer para que vim: eu não sei
ainda vivo do sonho

haha o sonho?
é uma bola viciada

a vida





Apenas um garção

Espectros

minha cabeça pesa  10 mil litros de vertigens uma tonelada de aborrecimentos arquivados  vinte campos de futebol de fantasias um casamento, ...